segunda-feira, 26 de novembro de 2012

A relação ser humano - natureza sob a ótica da espiritualidade

Atualmente vemos nos meios de comunicação e até nas conversas entre as pessoas a preocupação com a questão ambiental. Até alguns anos atrás a grande missão dos ambientalistas era divulgar o mais amplamente possível a destruição da natureza pela humanidade, tanto que muitos ficaram conhecidos pela alcunha de "ecochatos". No entanto a mensagem foi recebida, tanto pelo trabalho desses pioneiros, quanto pelo avanço das pesquisas científicas sobre o tema e, talvez ainda mais que isso, a evidência do aumento da quantidade de catástrofes ambientais e das mudanças climáticas pelo planeta.
 
Em relação ao aquecimento global, cujas pesquisas apontam como causa a emissão de partículas - sobretudo o dióxido de carbono e o metano - na atmosfera, que retem os raios infravermelhos irradiados pela própria Terra, há uma ala conhecida como os "céticos do clima", que defende que o período pelo qual passamos é uma ascendente dentro da oscilação natural de aquecimento e esfriamento do planeta e que toda essa história é uma grande farsa, uma conspiração que visa atender aos interesses do lobby capitalista. É uma grande polêmica, mas as evidências nos mostram que, mesmo que estejamos dentro desse período de aquecimento natural, a emissão desenfreada de poluentes pela humanidade agrava esse processo, causando desequilíbrios de grandes proporções.
 
Debater soluções para esses problemas envolve uma série de cuidados e imprescinde um mínimo de conhecimento das suas causas, condições que, infelizmente, raramente podem ser observadas na atualidade. Apesar de, como dissemos acima, a questão ambiental estar na pauta do dia, ela é ainda tratada com base numa série de misticismos, preconceitos e até deboche, seja por interesses escusos ou mesmo simples ignorância. Esse cenário impede que se materialize aquilo que verdadeiramente importa, que é a mudança dos hábitos insustentáveis.
 
No mundo globalizado de hoje, as sociedades estão organizadas com foco nas cidades, nos núcleos urbanos que concentram a grande maioria da humanidade. Praticamente todos os processos produtivos - e poluentes - estão direcionados para a sustentação dessa organização espacial de ocupação da superfície terrestre. E o problema principal disso é que a vida urbana invariavelmente afastou e afasta os seres humanos da natureza, a qual fornece as condições básicas de sua sobrevivência. Esse afastamento fez com que o ser humano esquecesse que é parte integrante da natureza e passasse a tratá-la como um mero armazém, onde busca aquilo que precisa - ou quer - sem se preocupar com as consequências desastrosas dessa atitude, pois, afinal de contas, a natureza não é um grande galpão, mas sim um conjunto de ecossistemas que abrigam inúmeras formas de vida, algo cujo valor é impossível de ser calculado economicamente.
 
 
No século 21 chegamos a um ponto em que ficamos diante de um paradoxo. Temos as informações e a consciência de que precisamos de um ambiente natural conservado que nos permita a qualidade de vida que queremos e precisamos. Mas, também estamos refens de um modelo econômico consumista voraz que, apesar de ser responsável pela manutenção de injustiças sociais, desequilíbrios e violência, se reproduz, utilizando-se das armadilhas do conforto e do prazer materiais excessivos, perante os quais a força de vontade dos homens se curva docilmente. E esse sistema se sustenta de recursos naturais, devorando-os descontroladamente.
 
Como solucionar essa questão? Estamos evidentemente tratando de um problema de escala planetária, o que demanda uma solução na mesma proporção. Mas qualquer trabalho coletivo, para ter êxito, precisa que todas as suas partes individuais estejam cumprindo bem suas atribuições específicas, como em um ímã, onde as partículas voltam-se todas para a mesma direção para, assim, criar o campo magnético. Adotar hábitos sustentáveis no dia a dia e diminuir o consumo é o caminho natural de quem deseja contribuir, além, é claro, de cobrar dos representantes políticos atitudes práticas inerentes aos seus cargos públicos. Mas como conseguir fazer isso se, como dissemos acima, somos refens do sistema e da nossa própria parca força de vontade?
 
As cidades trouxeram, além da tecnologia, da evolução das comunicações e do avanço científico, a possibilidade do aumento do desenvolvimento mental para o ser humano. A mente humana é capaz de plasmar em planos sutis os modelos prévios da realidade no plano material. A facilidade do acesso aos meios de sobrevivência, objetivo original das aglomerações humanas, possibilitou que mais tempo fosse dedicado à mente. Mas, nos últimos dois séculos, o emprego desse poder mental da humanidade começou a ser desvirtuado para a busca desenfreada do crescimento econômico e, em última instância, para a satisfação dos sentidos materiais do ser humano. De uma forma ou de outra, praticamente todas as instituições da sociedade estão voltadas para esses objetivos, mesmo que não o declarem abertamente. Então, resta-nos buscar por nossa própria conta o caminho de fuga dessa verdadeira - ou melhor, ilusória - prisão.
 
É claro que não podemos esquecer-nos da justiça e, principalmente, do incondicional Amor Divino presentes permanentemente em nossa existência. Se estamos inseridos nesse cenário de vida é porque nosso Eu eterno, nossas escolhas e nossa sintonia nos trouxeram até aqui. Mas estamos na vida física justamente para empreender as mudanças necessárias para nossa evolução. E o desejo sincero de mudar interiormente e o desejo de mudar o mundo se confundem! Quando nos damos conta disso, começamos a compreender que Deus não age exteriormente, mas sim através das nossas mentes e dos nossos corações! A partir daí, passamos a ter as condições necessárias para, através de nossa fé, direcionar nossa mente para construir meios de colocar em prática no nosso dia a dia hábitos mais saudáveis e ambientalmente sustentáveis.
 
Esses hábitos sustentáveis colocados em prática são a forma de fugirmos aos poucos desse círculo vicioso que estamos inseridos no modelo capitalista de produção. Talvez mais que simplesmente fugir, essa é a forma de transformar o sistema aos poucos, contribuindo para eliminar paulatinamente as injustiças enraizadas nele. E o exemplo em nossos cotidianos é também a melhor forma de sensibilizar aqueles próximos a nós e, por fim, convidá-los a despertar para a necessidade de mudança. É o campo magnético começando a ser criado...
 
As mudanças que podemos empreender em nosso dia a dia para tornar nossa realidade mais ecológica e servirem de exemplo para nossos semelhantes basicamente se resumem no conceito, muito utilizado nas ações de educação ambiental, dos três erres (3 R's): reduzir, reciclar e reutilizar. Reduz-se, retirando da nossa lista de compras e desejos coisas que não farão falta para a manutenção de nossa qualidade de vida; recicla-se, colocando-se aquilo que foi descartado novamente dentro do processo industrial; e reutiliza-se, dando nova função para aquilo que seria descartado no lixo. Talvez o mais significativo dos três seja o primeiro R - reduzir - pois ele implica em uma mudança comportamental e até existencial mais profunda, pois vai contra o princípio de que o capitalismo se utiliza para "prender" as pessoas dentro da crença de que a felicidade está condicionada ao "ter", em detrimento do "ser"...
 
Como exemplo de atitude a ser tomada, é praticamente impossível não destacar, entre tantos, a mudança nos nossos hábitos alimentares. O consumo de carne, leite e derivados é a atividade mais impactante aos ecossistemas naturais em todo o planeta. As grandes extensões de pastagens necessárias à produção eliminam florestas inteiras com toda sua biodiversidade e capacidade de fornecimento de serviços ambientais imprescindíveis para a qualidade de vida das pessoas, como a proteção dos mananciais de água, dos solos, da regulação do clima e a possibilidade de contemplação de belas paisagens, o que aproxima o ser humano de Deus. Além disso - na verdade, o motivo principal - é o direito à vida que todos os seres vivos têm. Nós, seres humanos, temos o dever moral, ético e evolutivo de proteger nossos irmãos menores e não sermos seus carrascos, ainda mais para satisfazer um simples desejo da gula, pois há provas cientificas mais que suficientes para comprovar que não dependemos de proteína animal para nossa sobrevivência.
 
Outro exemplo de mudança de hábito que merece destaque é a mobilidade. Devemos desconstruir a ideia de que o automóvel significa um alto status e uma vida bem sucedida. Ser bem sucedido é compreender que a felicidade está na busca do autoconhecimento e em trilhar esse caminho. Os automóveis movidos a combustíveis fósseis respondem por grande parte da emissão de gases poluentes na atmosfera. Optar pelo transporte público, por andar de bicicleta ou mesmo a pé, da mesma forma que a mudança na alimentação, são atitudes que contribuem para a saúde de nosso corpo físico, do nosso espírito e do nosso planeta.
 
Na Nova Era que se inicia na Terra, a relação entre o ser humano e a natureza deverá ser alçada a um novo patamar de compreensão: o espiritual. Chegará o momento em que não haverá diferenciação entre evolução espiritual e proteção da natureza, ou entre espiritualidade e ecologia. Na atualidade ainda há essa distinção, pois o ser humano vive o que se chama de "ilusão da separatividade", que significa que interpretamos Deus fora de nós. Achamos que somos partes separadas do todo universal e assim se cria a falsa necessidade da competição, da procura pela satisfação em coisas e situações transitórias e da luta pela sobrevivência. Quando compreendemos que somos um com Deus, passamos a ter acesso direto à fonte universal de energia infinita, e nos tornamos os atores da mudança que sonhamos para o mundo. Deus age através das nossas ações e assim passamos a respeitar integralmente a nós mesmos e a natureza que nos cerca, pois ela é manifestação dEle e, consequentemente, também nossa.
 
No futuro, quando toda a humanidade tiver essa consciência, o sistema naturalmente se transformará. Aquelas armadilhas que nos prendem automaticamente deixarão de existir, pois a sua fonte atual - o nosso medo - sendo transmutada pelo amor, deixará de retroalimentá-las. Descobrindo novas fontes de energia, não haverá a poluição pela queima de combustíveis fósseis e o desenvolvimento de novas substâncias mais sutis, acabará com a contaminação dos solos e dos rios, lagos, mares e oceanos. As cidades se reorganizarão, umas deixando de existir e outras novas surgindo, e seu funcionamento interno se dará em harmonia com o entorno regional, promovendo sua renaturalização e dele tirando a fonte de seu sustento de forma equilibrada. Assim, serão sanadas também todas as mazelas e injustiças sociais. E haverá o amor e respeito mútuo entre o ser humano e todas as espécies de vida de todos os demais reinos da natureza.
 
Podemos contribuir desde já para a materialização dessa realidade futura. Basta desenvolvermos a fé verdadeira na Luz Divina em nossos corações e exercitarmos nossa mente, para que ela se torne uma ferramenta plenamente utilizável, que nos auxilie a colocar em prática ações que desafiem o status quo externo e, principalmente, o interno. Assim, seremos os arquitetos de um mundo de paz e amor em todos os aspectos e em toda a sua amplitude.
 
Por UCNF

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Medo: uma etapa na educação de crianças evolutivas

Educar não é tarefa fácil! Consiste em passar adiante ensinamentos morais, espirituais e intelectuais que serão parâmetros para aquele ser, que está sendo educado, poder viver harmoniosamente em sociedade. Para isso alguns artifícios são utilizados: o diálogo, a conscientização, o castigo... Em cada momento e para cada criança vai ser diferente. Teremos que utilizar métodos distintos para que tenham o entendimento de importantes questões, como o amor e o repeito ao próximo. Algumas se conscientizarão a partir de um simples diálogo, outras não. Para estas o castigo pode ser um artifício para que não façam mal a outrem, não pela compreensão, mas pelo medo de ser punido. Talvez seja esta uma etapa: primeiro temo que um mal me assole para depois poder compreender que o que me prejudica também prejudica o outro, desenvolvendo sentimentos de empatia e altruísmo.
 
Consideremos então que, na escalada evolutiva, somos todos crianças sendo educadas e que as instituições responsáveis por nos educar são as religiões, a partir dos ensinamentos dos grandes mestres que estiveram neste plano trazendo a luz. A partir desta analogia podemos compreender a forma como as religiões atuais têm nos educado e também compreender suas histórias.
 
No velho testamento podemos diversas vezes observar um Deus rigoroso e punitivo, o que, por vezes, nos causa um estranhamento. Porém, precisamos compreender que numa época de guerras, dominação de territórios e pessoas, por espíritos enrijecidos pelo ódio, não seria possível a compreensão de um amor fraternal. Aquelas pessoas só poderiam ser freadas em suas atrocidades se temessem algo maior. Dessa forma seus “males” eram vistos como castigo e a partir do medo e das provas por que passaram foram construindo sua crença em um Deus único. O medo aqui foi uma forma de submeter as pessoas à Lei, sem que ainda a compreendessem. Podemos dizer que foi uma forma cega para deixar de cometer aqueles erros. Esse fato possibilitou que mais tarde Jesus pudesse trazer ensinamentos mais sutis, que pudesse falar de amor com toda simplicidade e sabedoria, tendo a compreensão de muitos na época e perpetuando os ensinamentos até os dias atuais. Com Jesus a educação já se dava através da compreensão das leis divinas. Compreensão esta que se dá de diversas formas, de acordo com o grau de evolução de cada ser. Cada um percebe da forma como lhe é possível, com novas experiências e, novos entendimentos.
 
O mais interessante é que o processo não é igual para todos. Existem espíritos vivendo na Terra nas mais diversas etapas evolutivas. Muitos ainda precisam do medo para deixar de cometer atrocidades ou ao menos para se portar de forma mais digna. Outros conseguem ter alguma compreensão, mas ainda se prendem ao sentimento do medo. E poucos, mas em número crescente, estão buscando compreender de formas mais aprofundadas esse algo maior que nos rege. Há aqueles que caem no erro de achar que estão no caminho certo, julgando irmãos e religiões como atrasados e absurdos. Vejam que não podemos esperar que nossa crença precise ser comum a todos. Cada um é diferente e está em uma etapa de todo o processo. Cada religião tem grande importância nesse contexto e cada pessoa busca estar em determinado templo de acordo com o que precisa para lhe alimentar a alma. O medo da punição eterna ainda é importante artifício para muitos se sintam seguros. Que possamos respeitá-los e entender que suas próprias religiões também podem lhes dar subsídio para compreensões diversas. No entanto, todas falam de amor e é aí que está o caminho que, enquanto humanidade, precisamos trilhar agora.
 
 
Atentemos ainda para o fato de que o pouco de compreensão que alguns de nós temos das Leis Divinas é somente um pouco, é apenas um recorte da realidade. Cada religião faz um recorte e cada ser o compreende da forma como lhe é possível. São processos, todos necessários para a nossa evolução. À medida que estudamos e procuramos agir com amor, caridade e compreensão, o medo vai perdendo espaço, até o ponto de desaparecer. Que possamos não mais alimentar este sentimento quando já estivermos nos candidatando a este estágio de evolução. Deixemo-lo passar! E que o amor seja para com todos os irmãos, para lidar com aqueles que necessitam do medo e, inclusive, para com aqueles que ainda acreditam não se submeter às Leis Eternas. Em algum momento estes enveredarão pelo caminho do medo ou, quem sabe, diretamente do amor, e para aqueles, tal sentimento não será mais necessário. Que possamos respeitá-los e sermos exemplos, nos disponibilizando caso se faça necessária a nossa presença.
 
Precisamos desenvolver a paciência e o amor com nossos irmãos e a humildade com nós mesmos. Aquilo em que creio não me faz melhor do que ninguém. Somos todos filhos do mesmo Pai, buscando acertar. A ignorância muitas vezes nos faz passar por caminhos tortuosos, mas que certamente nos levarão a aprendizados e experiências necessários a nossa constituição enquanto seres humanos. Não julguemos, pois, um irmão. Ele escolhe o próprio caminho e passa pelo que lhe é necessário. Cada um de nós tem ou pode ter a sabedoria sobre si mesmo.
 
Por UCNF