sábado, 10 de janeiro de 2015

O outro como espelho de si

O outro é um espelho. Assim sendo ele reflete o seu ser, reflete a sua alma. Não que ele não seja outras coisas. Ele é uma pluralidade, é constituído por sua própria história, tem características próprias, mas você o vê através de um filtro que é você mesmo. Não há como dissociar o olhar daquilo que está sendo visto. Não existe o olhar neutro. Portanto, características e julgamentos que atribuímos ao outro nada mais são do que algo que há em nós.


E sobre nós? O que nos permitimos ver de nós mesmos? E o que escondemos inclusive de nós mesmos? Nós também somos uma pluralidade, mas procuramos demonstrar apenas aquela parcela de nossa personalidade que acreditamos ser mais adequada ao trato social e isso nem sempre é consciente. É aí que está a questão. Aquela parte de nós que acreditamos, inconscientemente, que não pode ser vista, que está às sombras, aquela parte que consideramos suja, repugnante ou de que temos vergonha, nós não conseguimos escondê-la por completo. Vemo-la no nosso espelho, que é o outro, mas acreditamos ser uma característica dele. E então construímos críticas e julgamentos em função de algo que consideramos inadmissível e que está ali, tentando se ocultar em nós mesmos. Se nos permitirmos lançar luz sobre tais características poderemos vê-las, compreendê-las, quem sabe até amá-las. Se necessário, promover mudanças. Porém, enquanto as negarmos, elas estarão ali, latentes.

Situação semelhante é quando culpamos o outro por situações por nós vividas. Ora, tudo o que vivemos é nossa responsabilidade. Se nos isentamos dela, que mudança poderemos promover? É necessário colocar-se como agente. Saber distinguir o que se sente, pensa e imagina. Ter consciência de suas próprias responsabilidades, de suas próprias escolhas e do que elas podem acarretar. Sair do comodismo.


O outro é, portanto, um instrumento de autoconhecimento. Se você apenas o julga, critica e culpa ou então se vitimiza, você perde a grande oportunidade que lhe é dada de conhecer a si mesmo.

Por UCNF