segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Perdoe sinceramente, não reprima

É difícil para a grande maioria de nós lidar com situações nas quais nos sentimos ameaçados, feridos, magoados, traídos... E acabamos criando os mais diversos mecanismos de defesa para enfrentar esses fatos. Porém, tais mecanismos muitas vezes não passam de uma ilusão, nos mantendo presos a essas mesmas situações.
 
Quando nos sentimos magoados ou traídos, podemos partir para uma negação. O eu precisa se manter numa postura de bom moço, ou talvez não queira sofrer, e assim cria mecanismos ilusórios de percepção e aceitação de uma pseudo-realidade. Nega sentimentos que poderiam ter surgido daquela determinada situação. Tais sentimentos ficam obscurecidos, mas a negação não pode ser completa. Ou seja, de alguma forma, aquele problema virá à tona. Muitas vezes “matamos” mentalmente, ou em sonhos. Essa criação mental pode dizer respeito a um desejo de morte, oriundo da negação de sentimentos como a raiva, da manutenção desses sentimentos no inconsciente. E então, o sentimento que fora negado, reprimido em prol de condutas inseridas dentro de padrões morais socialmente estabelecidos, irá aparecer de outras formas, muitas vezes causando distúrbios físicos ou psíquicos, reativando alguns mecanismos de defesa. Nosso corpo muitas vezes dá visibilidade àquilo que está obscurecido. Muitas doenças que acreditamos ter origem puramente orgânica podem ter esse fundo psíquico.
 
Há momentos, porém, em que os sentimentos de raiva, ódio, entre outros, aparecem com toda força. São visíveis, são expressados, são manifestações conscientes. E muitas vezes falhamos ao alimentá-los, ao querer vingança, caminhando com eles até as últimas consequências, nos envenenando enfim. Aqui também perdemos a oportunidade de aprendizado com tais situações. Temos olhos somente para o que há de negativo, deixando-nos levar docilmente.
 
Quando, porém, em algum momento, percebemos que quem se ofendeu foi o ego, que as idealizações dele foram frustradas, passamos a ser observadores de nós mesmos, percebendo que devemos deixar que as coisas passem e seguir em frente. A partir dessa compreensão de que somos humanos, ainda muito limitados, reconhecemos esses sentimentos indesejáveis que por vezes deixamos brotar, reconhecemos nossas dificuldades, nossas limitações e buscamos uma forma mais saudável para lidar com isso.
 
Esses sentimentos precisam ser transformados em alguma outra coisa. Precisam ser transmutados. Se os ensinamentos mais fortes e nobres que tivemos até hoje diziam respeito ao amor, é por aí que devemos lidar com os sentimentos que criamos a partir de uma defesa egóica. A partir do momento em que reconhecemos nossas falhas, podemos deixar que as coisas  aconteçam naturalmente, em seu devido tempo, perdoando sinceramente e curando as feridas com amor. Mas, enquanto estiver algo mal resolvido, o perdão não poderá de fato acontecer. É um processo muitas vezes lento, mas possível quando aprendemos a ser humildes.
 
 
A partir dessa percepção de nós mesmos, aprendemos a ter mais paciência e compreensão com nossos irmãos. Se podemos falhar, eles também estarão sujeitos a tal situação. E quando me coloco no lugar daquele que me magoou, é possível perceber seus pontos de vista, sem julgamentos e sem vitimizações. Estamos todos na mesma escola, acertando, errando e procurando aprender. Quando a falha de outrem é tomada não no sentido pessoal mas como uma experiência, podemos perceber que cada um se encontra em um ponto dessa estrada, alguns mais a frente, outros atrás. E finalmente, quando sentirmos amor por todos os nossos irmãos, chegaremos a um momento em que não mais nos magoaremos ou sentiremos raiva. Não haverá espaço nem possibilidade para isso. Aqui já teremos superado muitas limitações e perceberemos que o amor pode nos levar por caminhos novos, de percepção da importância de cada experiência para nossa evolução. Ainda que tentem nos ferir, cada momento tem a sua parcela de perfeição de acordo com a nossa caminhada.
 
É momento de criarmos novas possibilidades de convivência, de nos observarmos com amor, respeitando nossa condição, para então dar um destino, de acordo com os princípios divinos, ao que nos faz mal. Que estejamos aptos a transmutar!
 
Por UCNF

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